
Introdução
O cinema, ao longo do século XX e XXI, tem servido como lente, metáfora e alerta para os riscos da guerra, os dilemas éticos da tecnologia e as fragilidades da diplomacia. Vivemos um momento tenso no cenário internacional. As disputas entre Irã e Israel já ganham contornos de confronto direto. Por isso, vale revisitar filmes que, mesmo sendo ficção, anteciparam o drama de viver à beira de uma catástrofe. Um bom exemplo é WarGames (1983). Embora ambientado na Guerra Fria, ele soa assustadoramente atual. Em tempos de automação e inteligência artificial, um simples erro de cálculo pode levar ao irreversível. Ao colocarmos esse enredo lado a lado com os embates no Oriente Médio, vemos o quanto o mundo real tem flertado perigosamente com o roteiro da ficção.
WarGames: Quando a Guerra Vira Jogo
Lançado em 1983 e dirigido por John Badham, WarGames conta a história de David Lightman (Matthew Broderick), um adolescente gênio em informática que acidentalmente acessa um supercomputador militar dos EUA — o WOPR — e inicia, sem saber, uma simulação de guerra nuclear com a União Soviética. O computador, incapaz de distinguir simulação da realidade, quase desencadeia uma Terceira Guerra Mundial. Embora o filme dialogue diretamente com os medos da Guerra Fria, ele também levanta questões sobre a fragilidade dos sistemas automatizados, o papel da ética na tecnologia e o limite entre jogo e realidade. Em última instância, WarGames não é apenas sobre guerra, mas sobre responsabilidade humana diante de sistemas que criamos para destruir.
O Mundo Real: Israel, Irã e a Nova Era dos Conflitos Automatizados
Nos dias de hoje, as relações entre Irã e Israel estão entre as mais tensas do cenário geopolítico global. De um lado, Israel, potência militar e tecnológica do Oriente Médio, com capacidade nuclear não declarada oficialmente. Do outro, o Irã, com um programa nuclear controverso, aliado a grupos como o Hezbollah e envolvido em guerras por procuração na Síria, Iêmen e Líbano.
A rivalidade entre os dois países extrapola os confrontos diretos. Hoje, a guerra cibernética é uma realidade consolidada. Israel já lançou malwares sofisticados como o Stuxnet (em parceria com os EUA) para sabotar as centrífugas nucleares iranianas. Por sua vez, o Irã tem intensificado ataques digitais contra infraestrutura israelense. Estamos, literalmente, vivendo um “jogo de guerra” onde linhas de código substituem mísseis e onde a inteligência artificial pode, sim, ser o próximo gatilho de um conflito real.
A grande lição de WarGames — de que o único movimento vencedor em uma guerra nuclear é não jogar — parece ignorada em um cenário onde decisões automatizadas, algoritmos militares, inteligência artificial bélica e armamentos autônomos estão se tornando norma.

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Cinema de Guerra: Refletindo os Traumas e as Políticas
Outros filmes clássicos ajudam a ilustrar diferentes faces da guerra — desde sua brutalidade até seus aspectos políticos e psicológicos. Destacamos três que ajudam a compor o mosaico:
🎖️ Bom Dia, Vietnã (1987)
Com Robin Williams, o filme equilibra humor e crítica ao mostrar a guerra sob a perspectiva de um radialista do exército americano. Aqui, a guerra não é sobre combates diretos, mas sobre a guerra de narrativas — algo extremamente relevante na era das redes sociais e da manipulação da informação no Oriente Médio.
💣 Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987)
Dirigido por Stanley Kubrick, o filme é uma análise fria e cirúrgica da desumanização do soldado. Da formação militar à perda de identidade no campo de batalha, o filme ressalta como os horrores da guerra moldam — e destroem — a psique. O paralelo com o cotidiano de soldados israelenses e milicianos iranianos, criados em ambientes militarizados, é inevitável.
☠️ Platoon (1986)
De Oliver Stone, é talvez o mais visceral dos filmes do Vietnã. Mostra o conflito interno de um soldado americano entre dois sargentos de visões opostas. Em um conflito como o do Oriente Médio, repleto de zonas cinzentas, líderes radicais e disputas internas, o filme ecoa os dilemas morais de soldados forçados a escolher entre o pragmatismo e a ética.
Conclusão: Da Ficção à Realidade — O Jogo Continua
A guerra sempre foi um jogo de poder e domínio. No entanto, o cinema mostra que esse jogo tem falhas e causa dor real.
À medida que o mundo caminha para uma era onde tecnologia e armamento se fundem, a linha entre o virtual e o real se dissolve perigosamente. Hoje, Irã e Israel não são apenas rivais geopolíticos; são os protagonistas de uma nova Guerra Fria cibernética — e potencialmente nuclear — que pode, como no filme, começar por um simples clique errado.
Talvez nunca tenha sido tão urgente lembrar a lição final de WarGames:
“O único movimento vencedor é não jogar.”